sábado, 14 de setembro de 2019

Precisamos falar sobre... #21: Censura na bienal


Olá, pessoal! Tudo bem?
Finalmente estou de volta após a Bienal do Rio. Até queria fazer postagem contando como foi lá, porque fui como autora e tal. Mas, quero deixar esse tipo de postagem mais detalhada lá para o Garota Zodíaco. É lá que gosto de escrever essas coisas.
Ainda estou aqui para falar da bienal de uma certa forma, mas não da que eu gostaria, com certeza, especialmente se formos pensar em que época estamos vivendo. Se bem que a gente parece ter regredido uns 50 anos em menos de dois anos.
Durante a bienal estão à venda livros dos mais diversos tipos, desde infantis e até adultos, entre os Hots e os LGBT e essas coisas. Literatura é livre e representativa!
Entre eles estava um dos quadrinhos da marvel chamado "A Cruzada das Crianças" e no meio da história - que não é adequada pra crianças, apesar do nome (e traduziram errado, ao que eu vi) - tem um beijo de um casal homoafetivo. E não sei o que acontece com certas pessoas, mas elas fazem alarde por coisas minusculas e se incomodam com qualquer coisa LGBT.
Enfim, o prefeito do Rio, o Crivella, entrou com uma pedido - não sei o nome que se dá exatamente, desculpa se estiver falando errado - para a retirada desse quadrinho, por ter conteúdo impróprio para crianças. Porém, a Bienal veio por cima e fez uma liminar proibindo a retirada dos exemplares e depois veio a Prefeitura derrubando essa liminar.
Se não me engano em algum ponto, os livros deveriam ser vendidos embalados em plástico preto. Depois que veio essa de confiscar.
Em meio a tudo isso, "A Cruzadas das Crianças" esgotou em 40 minutos.
A nível de contexto, foi esta cena que fez o Crivella ficar "alarmado".

Fiscais da prefeitura foram a bienal para confiscar os livros de temática LGBT. (Inclusive, quase levaram Mic & Maire da Luciane Rangel.) E enquanto isso, os hots estavam passando ilesos, livros que tem a capa mais apelativa estavam tranquilos. O que os alarma mesmo são duas pessoas do mesmo sexo, se for de casal hétero não tem problema. Estou dizendo isso porque tem umas capas de livro hot que falta pouco para o casal estar pelado na capa.
E teve uma outra ação bem legal, do Felipe Neto - que todo mundo fala mal, mas o cara é sensato e ótimo com marketing. Ele pegou todos os livros LGBT dos estandes da bienal, comprou e distribuiu gratuitamente, embrulhados com plástico preto e com um adesivo escrito: ESTE LIVRO É IMPRÓPRIO para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas. Felipe Neto agradece a sua luta pelo amor, pela inclusão e pela diversidade.
Claro, que a Prefeitura bateu lá para impedir a distribuição dos livros, mas não adiantou. Eles conseguiram distribuir.

Em vez de se preocupar com problemas mais importantes da cidade, como o transporte da cidade, porque no segundo sábado da bienal foi simultaneamente com a Final do CBLOL - Campeonato Brasileiro de League of Legends - e o BRT não estava dando vazão para as pessoas voltarem para casa. Eu estava com meu namorado e irmão, até tentamos chamar um carro para voltar, mas o que tinha dado 30 reais na semana anterior, estava dando mais 100, por conta demanda do lugar. Tivemos que pedir nosso pai para vir nos buscar, ou senão, iríamos ficar até sei lá que horas para tentar entrar na estação do BRT.
Mas, não. O prefeito se preocupou com uma história que não é nem pra criança só porque tem dois homens se beijando nela - e não é nem na capa, é no meio da história. Sei que comentei sobre os livros hot acima, mas é para comparar apenas, pois um passava ileso e o outro tinha enormes problemas.
Criança não pode ver casal do mesmo sexo de mãos dadas nem se beijando, mas um casal hétero se agarrando e pelado numa capa tá tudo bem. Nenhum dos dois é apropriado para crianças, mas cabe aos pais saber controlar o que os filhos têm acesso.
As crianças não podem ver casal gay, mas podem ver a violência sem maiores problemas.
O que incomoda é a censura e ela ser tão seletiva. E claro, impedindo a liberdade literária. Impedindo a representatividade e a pluralidade de expressões de pessoas.
Estamos em 2019, mas parece que voltamos para 1940, quando livros eram incendiados em praças.
Temos direito de ler o que quisermos, do tema que quisermos.
E sabe o que foi mais bonito de toda essa história? Foi o protesto que fizeram no final do segundo sábado. Foi lindo ver as pessoas com os livros nas mãos!
Ninguém vai nos calar! Literatura é resistência! Livros são as melhores armas!

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